O dragão e o cavalheiro valente

O rei mandou seu arauto fixar por todo seu reino o seguinte anúncio:

"O cavalheiro que livrar nosso reino do terrível dragão que nos
amedronta e come nossas lavouras, terá a honra de casar-se com a
princesa, filha do rei Euzion e receberá cinco arcas cheias de joias
e moedas de ouro".

Muitos cavalheiros se apresentaram para a difícil tarefa e todos acabaram
chamuscados pelo fogo que o dragão lançava pelas narinas.
E na correria para fugirem da fera, ainda perdiam montaria, armadura,
lança, espada e a dignidade.

Um dia apareceu um belo rapaz vestido numa armadura roxa dizendo que
se incumbiria de acabar com o tormento do rei e de seus súditos.

Indagou onde o dragão vivia, montou em seu corcel branco e foi à caça
da besta fera que disseram ter grandes asas e soltar fogo pelas ventas.

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Após cavalgar muitas horas, o destemido cavalheiro finalmente avistou,
no alto duma colina, a gruta em que vivia o dragão em suas horas de
folga.

No bosque ao pé da colina deixou seu cavalo pastando e iniciou a subida
até aquela enorme caverna.

A subida era penosa, ainda mais vestido numa armadura e carregando
escudo, lança e espada que pesavam mais do que os pecados do bicho.
Chegando à entrada da gruta, escondendo-se entre os arbustos que haviam
ali, espreitou dentro da caverna para ver se o dragão estava ali.

Como passava do meio-dia, certamente de barriga cheia, o dragão tirava
uma soneca.

Pé ante pé o cavalheiro adentrou a caverna e, um pouco ao fundo, viu
o dragão dormindo de asas fechadas e roncando alto.

Aproximou-se da fera e percebeu que, numa das suas patas estava cravado
um grande espinho. Apesar de temer que o bicho acordasse, puxou com
força o espinho e o dragão abriu os olhos e o encarou, deixando escapar
duas lágrimas dos seus olhos cor de mel.

Mais ao fundo o valente cavalheiro percebeu uma ossada que lhe pareceu o
esqueleto de um dragão bem maior do que o que ele deveria enfrentar.

De espada em riste e protegendo-se com o escudo, o cavalheiro investiu
contra o dragão.

Antes que o atingisse, o dragão, que na verdade era uma fêmea, deu-lhe
uma lambida no rosto que o derrubou ao chão.
Após lambê-lo mais duas vezes, o dragão fugiu para o fundo da caverna e
quando o cavalheiro se recuperara e estava sentado no chão, ela voltou
trazendo um cesto com uma rosa branca dentro e lhe entregando.

Como o cavalheiro entendeu que o dragão não lhe faria mal, pegou a flor
no cesto, levou-a aos lábios e a beijou.

No mesmo instante ouviu-se um estrondo e uma fumaça rosa tomou toda a
caverna.

No meio da fumaceira o cavalheiro pôde distinguir uma belíssima mulher
que, ajoelhada, lhe sorria.

Eles se levantaram e foram sentar-se numa pedra que havia por ali.
Antes que ele se recobrasse totalmente da surpresa, a moça lhe contou
que fora, juntamente com seu irmão mais velho, enfeitiçados por uma
bruxa velha que era inimiga dos seus pais, reis dum reino vizinho.

Então ele pediu que ela o esperasse e retornou ao bosque para pegar seu
cavalo e voltou à caverna.

Ao transcorrer dois meses que eles viviam apaixonados nessa gruta, ele
juntou os ossos do dragão que morrera e os colocou num cesto de
palha que tecera e os levou ao castelo do rei para receber sua
recompensa, como dizia no cartaz.

Sua amada ficou esperando na gruta que vivera tantos anos.

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Chegando ao castelo apresentou-se ao rei Eulion, exibindo para toda a
corte o esqueleto do dragão e cobrando sua recompensa, conforme prometeu
o rei.

O rei mandou chamar a princesa Dalinda.

Com os olhos marejados, Dalinda disse ao pai, diante de todos, que
cumpriria sua ordem, mas que seu coração pertencia ao arauto.

Com um sorriso, o cavalheiro disse ao rei que não pretendia a mão da
princesa, viera buscar as cinco arcas prometidas por ele, deixando
Dalinda para assumir seu amor.

Dalinda agradeceu bastante ao rapaz e foi refugiar-se nos braços do
arauto.

O rei mandou entregar ao jovem as arcas e deu-lhe uma carroça para
carregar seu tesouro.

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O jovem cavalheiro que se chamava Viken retornou à caverna em que ficara
a princesa Karin e dali partiram para as terras do pai da moça onde
passaram a viver e onde cresceriam seus filhos.

Três meses depois eles foram convidados para o casamento de Dalinda com
o arauto Anthony.

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E todos viveram felizes para sempre!

- FIM -

Luís Campos (Blind Joker)
Salvador, 11 de janeiro de 2020.