Cosme e Damião, monges de um mosteiro das redondezas, vinham trotando
em suas mulinhas de volta para casa, após venderem na feirinha da
aldeia os produtos que trouxeram da horta e do pomar que cultivavam
nas dependências do monastério.
Ao chegarem à entrada da ponte sobre o rio Chuá, foram barrados por
dois sujeitos mal-encarados e um deles lhes disse:
- Onde pensam que vão, padrecos?
- Não somos padres, somos monges. - disse o monge Cosme.
- Vamos retornar ao convento, irmão. - respondeu o monge Damião.
- Sei! Para voltarem ao convento terão que passar sobre essa ponte, não
é?
- Claro, irmão, afinal, este é o caminho. - disse Damião.
- Sei! Mas para passarem pela ponte terão que pagar o pedágio.
- Como? Esta ponte foi mandada construir pelo Príncipe de Estória, Sir
Blind, Senhor das terras de Estória. - disse o monge Cosme.
- E tem mais: Essa bandalheira de pedágio é coisa do futuro bem
distante, segundo li nas cartas do tarô. - completou o monge Damião.
- Mas acabamos de inventar. Certamente esse povo do futuro nos copiou!
E fizeram muito bem... pros bolsos deles! Rê rê rê rê!
- Está bem, irmão. Quantas moedas temos que pagar? - perguntou Cosme.
- Depende de quantas moedas vocês trazem.
- Irmão Damião, veja quantas moedas temos e quantas poderemos dar a
esses... senhores. - disse o monge Cosme.
O monge Damião pegou a bolsinha com as moedas, mas antes que a abrisse,
o bandido a puxou da sua mão.
- Vocês não podem ficar com todas essas moedas, irmãos. Elas servirão
para comprarmos mantimentos para o mosteiro.
- Serviriam, padrecos, mas agora são nossas. Podem atravessar a ponte.
Rê rê rê rê!
Desgostosos por não terem como fazer nada, os monges atravessaram a
ponte e meia hora depois adentravam os portões do convento com os
caçuás das suas mulinhas vazios e sem as moedas.
O Abade e alguns monges estavam na copa conversando com o mago Manblind
e seu escudeiro e amigo Loubrail quando Cosme e Damião contaram o
ocorrido. O Abade ficou triste porque naquela semana certamente
passariam necessidade, mas agradeceu a Deus porque os monges não
sofreram agressão.
Manblind, vendo a situação, disse ao Abade:
- Abade, eu e o Loubrail iremos recuperar suas moedas.
- Não, irmãos. Esses homens malvados podem ser perigosos!
- Eu também sei ser perigoso, Abade. Não se preocupe, sairemos agora
mesmo. Loubrail, prepare nossos cavalos.
Dez minutos depois Loubrail estava com os cavalos arreados à espera de
Manblind. Eles montaram e partiram.
Cerca de meia hora estavam diante da ponte e quando se preparavam para
atravessá-la, os dois bandidos os pararam:
- Onde pensam que vão os senhores?
- Vamos à aldeia de Dalei, por quê? - perguntou Manblind.
- Porque para passarem nessa ponte têm que pagar o pedágio.
- Mas a ponte não é de vocês, segundo sei.
- Mas agora é nossa e se quiser passar, vá logo desembolsando suas
moedas.
- Quantas moedas temos que lhes dar, cavaleiro?
- Depende de quantas moedas tragam nesse alforge aí.
- Loubrail, veja quantas moedas podemos dar a estes senhores, por
favor.
Quando Loubrail retirou o alforge da cela e ia olhar seu conteúdo, o
ladrão arrebatou a bolsa e, com um sorriso mau, abriu o alforge e meteu
a mão lá dentro.
Sem que os meliantes percebessem, Manblind fez um gesto com as mãos.
O homem soltou um grito terrível e retirou a mão. Um pequeno dragão
alado mordia seus dedos. A outro gesto do mago, outro dragão saiu
voando da bolsa e foi morder a garganta do segundo facínora.
O primeiro dragão largou os dedos do cara e pulou em sua garganta.
Logo os dois homens estavam mortos.
Manblind ordenou que os dragões ficassem quietos e mandou que Loubrail
pegasse todas as moedas que os homens tivessem em seus bolsos e a
bolsinha dos monges. Assim que Loubrail voltou a montar em seu cavalo,
Manblind fez mais um gesto e os dragões ficaram enormes e começaram a
devorar os corpos dos homens. O mago ordenou às feras que fizessem a
festa e desaparecessem.
Quando Manblind e Loubrail já haviam cavalgado cerca de uma légua, os
dragões desapareciam no horizonte.
Finalmente nossos heróis chegavam ao mosteiro, entregavam o que
retiraram dos bandidos, entregavam ao Abade e se retiraram para curtir
uma merecida sesta.
- FIM -
Luís Campos (Blind Joker)
Salvador, 25 de janeiro de 2020
quinta-feira, 23 de abril de 2020
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