Luís Campos (Blind Joker)
Quando um dos quatro homens tentou me pegar, fugi por uma porta lateral. Eles correram atrás de mim. Pulei da varanda sobre o teto de um dos carros estacionados, amassando-o quase completamente e pulei ao chão, correndo rente ao muro da casa. Podia ouvir os gritos dos meus perseguidores e os latidos dos cães, agora também em meu encalço.
Nem pensava em olhar para trás, só queria saber como me livraria da sanha daqueles bandidos. Quando alcancei o portão, percebi que era apenas fechado por um trinco. Puxei a lingüeta e saí, batendo-o atrás de mim, no exato momento em que os cães chegavam, esbarrando-se contra este. Continuei correndo pelas ruas escuras do condomínio, até chegar à guarita de entrada. Abri o portão, deixando-o escancarado, e corri até onde deixara meu carro. O interessante é que eu sabia que meu carro estava ali, mas não sabia como chegara e nem quando. Entrei e como a chave encontrava-se na ignição, liguei o motor e saí
do local em disparada. Eles não se deram por satisfeitos. Logo três carros me perseguiam pelas ruas da cidade. Eu dirigia como louco, embora fosse de madrugada e o trânsito estivesse tranqüilo. Vez por outra, um farol alto refletia no retrovisor interno, ofuscando-me. Minha cabeça latejava e meu corpo denunciava as marcas do espancamento que sofrera na mão dos bandidos. Não conseguia entender porque estava prisioneiro daqueles homens e nem mesmo o que eles queriam comigo.
O que eu teria ou saberia que valia tanto?
Tentei fazer uma retrospectiva das últimas horas mas não conseguia
lembrar de nada até o instante da minha fuga.
Como fui parar naquela mansão? Quem era o chefe desses bandidos?
As respostas não vinham, mas meus perseguidores se aproximavam.
Desesperado, entrei numa rua transversal, tentando despistá-los.
Percebi que um carro também entrou na mesma rua, logo atrás do meu, "cantando" os pneus. Aumentei a velocidade tentando me distanciar e me preparando para entrar numa outra rua, em uma intersecção que havia a algumas quadras adiante. Quando estava a uns cem metros da citada esquina, tive meu caminho bloqueado por dois automóveis, deixando-me sem qualquer alternativa, a não ser a de colidir com estes veículos, provocando um acidente e talvez a morte dos ocupantes destes e até a minha própria. Instintivamente pisei forte no freio, travando as quatro rodas do carro, riscando o asfalto, com um barulho arrepiante e estridente. Imediatamente sentiu-se no ar o cheiro de borracha queimada. Assim que meu carro parou, foi cercado por quatro daqueles brutamontes, todos armados. Um deles, que parecia o chefe, abriu a porta do meu carro e quase me estrangula ao retirar-me à força de dentro. Fui arrastado até um dos carros que parara à frente do meu e jogado no chão, diante da porta traseira. O vidro foi baixado e então pude ver o rosto do meu algoz. Andrea Bocelli, o cantor cego!
Não entendi nada. o que o Bocelli poderia querer comigo? Que mal eu lhe teria feito?
Não me contive e gritava, repetindo desesperado:
- Andrea, o que você quer comigo?
- Andrea, o que você quer comigo?
- Andrea, o que você quer comigo?
Ao gritar pela terceira vez, recebi um murro na barriga e pude ouvir
claramente estas palavras:
- Acorde, descarado! Quem é esta Andrea?
FIM
sábado, 3 de outubro de 2009
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