terça-feira, 13 de outubro de 2009

Meu Pai, Meu Herói - Crônica

Autor: Vinícius Campos

Nota: Este texto meu filho fez sobre mim, aos dezessete anos,
para um concurso na TV Bandeirantes em 2000 e que ficou em
segundo lugar.

Quantas vezes o vi cuidando do seu carro, lavando-o ou
mexendo no motor;
Quantas vezes o vi reparando canos, pias e ralos;
Quantas vezes o vi consertando eletrodomésticos;
Quantas vezes o vi entre fios, tomadas e disjuntores;
Quantas vezes o vi pregando e colando mesas, armários e
cadeiras;
Quantas vezes o vi cimentando pisos ou lixando e pintando
paredes;
Quantas vezes contou-me histórias nas quais, sempre, eu fazia
parte da trama ou era o protagonista;
Quantas vezes me fez sorrir com suas piadas e brincadeiras;
Quantas vezes foi cavalo,cachorro, entre outros bichos, para
me divertir;
Quantas vezes levou-me a cinemas, praias, parques, circos
e shoppings;
Quantas vezes ajudou-me nos deveres escolares, nunca os
fazendo por mim;
Quantas vezes zelou por minha saúde, levando-me a dentistas,
médicos e oculistas;
Quantas vezes acalentou-me, com canções de ninar, até eu
dormir;
Quantas vezes falou-me de Deus, do respeito aos meus
semelhantes, de como deveria tratar bem aos animais;
Quantas vezes cuidou dos meus machucados, do corpo ou da
alma, com remédios e palavras de carinho;
Quantas vezes explicou-me como era a vida, do bem e do mal,
da natureza, do meio-ambiente;
Quantas vezes ouviu minhas histórias, meus sonhos, minhas
bobagens, com toda atenção, sorrindo e aconselhando-me;
Quantas vezes me disse o quanto eu era amado...

Perdi a conta!

Quando eu fiz sete anos ele ficou cego. Eu não sabia o
quanto era importante a visão. Minha mãe conversou bastante
comigo sobre as dificuldades que ele teria, dali por diante.

Fiquei muito triste por ele. Pensei: coitadinho!

Quem agora iria me levar e pegar na escola todos os dias ?
Quem iria brincar comigo de programas de tevê, jogar xadrez,
dominó e baralho ?
Quem iria ser cavalo, montar Hering-Rasti, autorama e
trenzinho elétrico para mim ?
Quem iria fazer barcos, aviões e bonecos de papel nos dias
chuvosos?
Quem iria empinar arraia e bater uma bolinha comigo ?
Quem iria desenhar, pintar e fazer a decoração nos meus
aniversários ?

Como eu estava enganado! Pouca coisa mudou.

Quase tudo que ele fazia antes, continua fazendo. Como ele
mesmo diz: "Eu sou o técnico. Só preciso de um ajudante, com
pelo menos, um olho!"

Hoje tenho dezessete anos. Nestes dez anos de sua cegueira,
ele não deixou de ser palhaço, humorista, poeta, pedreiro,
artista, encanador, mecânico, pintor, eletricista, cantor,
marceneiro, professor, parceiro e amigo... um paizão!

Um exemplo de força e coragem!

Por tudo isso e por sua lição de vida, eu digo com muito
orgulho:

- Meu pai, meu herói!


Vinícius Campos
( Em 05.08.2000)blockquote>

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