sábado, 3 de outubro de 2009

O Naufrágio do Karina II (Conto)

Luís Campos (Blind Joker)


A tarde estava morna. Soprava uma leve brisa, refrescando aqueles que se achavam por ali.

A natureza, pródiga, neste início de primavera, deixava a beira do lago florida. Ouvia-se o canto de alguns pássaros vespertinos, no bosque que ladeava o lago.

Numa das margens, alguns homens aproveitavam para jogar conversa fora, outros jogavam vôlei, dominó ou damas e os demais apenas aproveitavam a grama para descansar.

Algumas mulheres, assim como fazem os homens, formavam grupinhos e entre risos e gargalhadas, trocavam confidências e intimidades, possivelmente rindo dos próprios maridos e namorados.

As crianças aproveitavam para correr pelo campo gramado, brincando de pegar, empinavam pipas e arraias ou simplesmente ficavam deitadas tentando adivinhar os desenhos que as nuvens formavam, antes de se desfazerem. O alarido das conversas era intenso.
Entretanto, ninguém se aventurava a entrar na água, pois sabiam que, embora a temperatura ambiente estivesse agradável, possivelmente a água estaria quase gelada.

Um pouco mais adiante, um outro grupo de homens discutiam sobre seu assunto preferido, enquanto apreciavam alguns barcos que navegavam ao largo. De repente, o céu foi coberto por grossas nuvens, oriundas do litoral e escureceu completamente. Rajadas de vento começaram a soprar, aumentando a cada minuto e uma chuva fina e fria, começou a cair. O povaréu correu para o bosque, procurando abrigar-se sob as árvores, embora isso fosse impossível.

A tempestade não tardou. O vento sibilava aos ouvidos que não aceitaria desafios e a chuva tornou-se torrencial. O lago parecia querer subir pelas margens.
As ondas avolumavam-se, ameaçando as embarcações que insistiam em permanecer em suas águas. Quase todas foram trazidas ao pequeno ancoradouro, restando apenas ao "Karina II", um bonito veleiro de três mastros, retornar. Mas pareceu aos homens que apreciavam a luta do barco para vencer as ondas que não iria conseguir.O veleiro manobrava tentando transpô-las, mas estas batiam nas laterais fazendo-o adernar, hora para um lado, hora para o outro.

As ondas lavavam o convés, levando tudo que estava solto ou mal amarrado. O barco embicava nas vagas e saía adiante. As velas já não tinham nenhuma utilidade e eram apenas empecilho para que o veleiro permanecesse à tona. Do pier, os homens apreciavam a luta do mesmo.
Era como a batalha da formiga contra o elefante que teimava em pisar o formigueiro. Uma onda mais forte e maior que as demais, por fim, fez o barco virar e encher-se de água. E ele começou a afundar.
Um dos homens atirou-se ao lago e nadou em direção ao Karina II.

Após algumas braçadas, alcançou a embarcação. A pegou por um dos mastros e ao verificar que ali não era tão fundo, ficou de pé e, levantando o barco pelo casco, emborcou para retirar toda a água do interior deste e, com ele numa das mãos, retornou andando para a margem, onde os amigos o esperavam. Ouviram-se gritos de vivas e aplausos e o homem, todo molhado, exclamou:
- Levei quatro meses para fazer esta réplica...não iria perdê-la assim tão fácil!
FIM

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