domingo, 4 de outubro de 2009

O Espaço (Mínimo) do Homem - Crônica

Luís Campos - Blind Joker

Nota do Autor

Esta crônica foi escrita há mais de vinte anos, quando ainda era
casado e antes de ficar cego, fato que ocorreu em 1990.
Qualquer homem que é ou já foi casado, saberá do que vou falar.
Certamente farão suas as minhas palavras e serão testemunhas a meu
favor, em caso de um processo por calúnia ou difamação que venha a ser
impetrado por minha ex-mulher, que é Juíza do Trabalho...
Já perceberam o risco que corro, né? (Risos)
Aos Solteiros deixo o Recado:
Este texto não serve como aviso, pois, façam o que fizerem para que
isto não aconteça, inevitavelmente ocorrerá.
Não existe antídoto, é letal! (Risos)

Vamos ao texto:

Devo dizer que minha esposa é uma companheira maravilhosa, excelente
filha e irmã, mãe extremosa e amiga sincera. Esta crônica é apenas uma
brincadeira, embora os fatos sejam expressão da verdade! (Risos)

No nosso quarto, temos uma mesinha antiga, com tampo de mármore, que
pertenceu aos avós da minha mulher, coisa de mais de cem anos.
Ali ficam as suas bonecas (algumas eu dei quando namorávamos), uns
bibelôs e o rádio-despertador... tudo dela!
Defronte à cama há uma cômoda com duas gavetas e três gavetões.
Claro que vocês já adivinharam! Não? Nada disso: eu só uso uma das
gavetas... as demais são dela!
Sobre esta peça fica um televisor e o vídeo. A TV eu posso assistir o
canal que quiser... desde que seja o que ela está assistindo!
Sou o maior expert em novelas - Globo, Record, SBT...
Se ela não está em casa, aí tudo bem, eu posso assistir a qualquer
canal... mas quem a leva pra rua e dirige pra ela? Euzinho!
Com o vídeo a coisa é mais "maneira". Quando o comprei, alugava cinco a
seis filmes na sexta-feira para devolvê-los na segunda... pelo menos
ela deixava eu assistir a duas fitas!
Embaixo da janela fica o ar-condicionado. Todas as noites ligado ao
deitarmos e desligado por mim três horas depois... quase congelado!
Para ela, que já rolou na neve, é moleza!
Morando em Salvador, eu adoro o sol. Claro que sinto calor, mas daí a
ter o clima do Ártico no nosso quarto... brrrrrrrrrrrrr!
Para evitar falação, o ligo novamente uma hora depois e desligo após
acordar, pensando estar na Antártida... e batendo o queixo!
E assim vamos por toda a noite, todas as noites!

Ao lado direito fica o armário embutido (grande invenção), com sete
portas úteis, das quais uso apenas duas.
Dos oito maleiros (na verdade o armário tem oito portas, mas uma dá
acesso à suíte), quatro contém roupas de cama e toalhas... as
restantes, coisas dela!
Na sétima e na oitava porta são colocados os sapatos. Cada uma tem seis
prateleiras. Eu faço uso de apenas três destas, nas quais estão todos
os meus dois tênis, minha única bota, meus quatro sapatos e as duas
sandálias... observo que em cada prateleira cabem, no mínimo, quatro
caixas de sapatos, além daqueles que são colocados entre e sobre estas
(será que elas têm síndrome de centopéia?).
Na cama, que por sinal é mais larga que as demais, ocupo apenas um
terço. Ela consegue se espalhar pelo espaço restante sem ao menos ser
gorda... qualquer dia me põe para dormir no chão!
Ela reclama dos meus roncos e diz que não ronca! Um dia eu lhe disse
que iria gravar e provar que ela roncava. Sabem o que ela falou?

- Não acredito. Você vai é fazer uma montagem!

Na suíte a coisa é feia!
A banheira eu nem uso... nem as prateleiras e as bancadas da mesma!
Há pelo menos uns vinte e cinco vasilhames "perdidos" por ali!
Frascos, potes, sprays, saboneteiras... de tudo que é formato e cor!
Um verdadeiro arco-íris perfumado... sei lá mais o quê, contendo todo
tipo de cremes, pós, bolinhas coloridas, líquidos viscosos, pegajosos
e aquosos...
É tanta parafernália que não acredito que ela saiba para que servem
exatamente e se realmente fazem algum efeito (risos).
Acima do lavatório tem uma pequena prateleira. Pequena é força de
expressão... como cabe coisa!
Batons, mais cremes, aquelas coisas de passar nos cílios... eu contei
dezoito unidades de "qualquer coisa", mais o sabonete, a escova, o
creme dental e o fio-dental, que não consigo acreditar que ela encontre
aquilo que deseja em menos de dez minutos... aliás, não creio que ela
encontre qualquer coisa ali... Às vezes eu tenho medo de procurar o
fio-dental e derrubar tudo!
O armário sob o lavatório tem uma porta e três gavetas. Ela ocupa tudo,
mas eu, para abusar, ponho a minha escova de dente numa das gavetas.
Ela, muito compreensiva, nem reclama!
Nos dois cabides que ficam perto da banheira só tem roupas dela!
Tem mais um outro, com lugar para pendurar até seis peças, no qual ela
me deixa usar dois... vou reclamar de quê?

No box, para sintetizar, de meu, apenas o sabonete e um barbeador
descartável... que às vezes eu procuro, mas ela já jogou fora!
Também não reclamo: é que faço a barba durante o banho e com sabonete.
Como não costumo lavá-lo, fica cheio de pelos e com sobra de sabão...
e isto pra ela é porcaria e lugar de porcaria é no lixo. Ponto pra ela!
Além da cantoneira, ela ainda consegue ter coisas para colocar sobre a
meia parede que fecha o retângulo do banheiro.
Nesta suíte ainda tem uma balança e um espelho de corpo inteiro (Numa
das portas do armário embutido há outro igual?!), e um redondo sobre o
lavatório... para uso dela!
Anexo ao nosso quarto tem um gabinete. Lá temos um computador, um
scanner, uma impressora, uma esteira ergométrica e oito prateleiras
repletas de livros... todos dela, nenhum meu!
Quando a empregada, com sua mania de arrumação, por acaso encontrava
algum livro meu jogado em um canto qualquer, o colocava numa destas
prateleiras do gabinete... nunca mais eu encontrava o maldito livro!
Se estas coisas já aconteciam na época que eu enxergava, imaginem como
depois ficou mais difícil para o ceguinho aqui!
Para acabar, sendo deficiente visual, tenho meu próprio computador, com
um programa especial para cegos (Dosvox) e que ficava em um outro
gabinete da casa (que nem era meu, mas do nosso filho), bem menor do
que o dela e que tem duas prateleiras, um armário que vai até o forro
e uma mesa com quatro gavetas... quem vocês acham que usava a maior
parte do espaço destes móveis? Acertaram, sabichões!
Apesar de alguns "exageros", esta é uma pequena mostra do espaço
"mínimo" que usufruímos numa casa!
Senhores, ainda querem casar?

Outro dia falo mais sobre este assunto... mas aí já estarei solteiro!

FIM

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