sábado, 3 de outubro de 2009

Apenas um Equívoco! (Conto)

Luís Campos (Blind Joker)


Ele a conhecera numa feira quando ela comprava algumas frutas.
Ao perceber que a moça não sabia escolher as laranjas e pegava aquelas ainda verdosas, com o intuito de ajudar, disse-lhe:

- Desculpe-me, mas essas laranjas que você pegou não estão boas!

Ela sorriu e disse ao rapaz:

- Eu nunca sei como escolher as docinhas. Quase sempre, a maioria das laranjas que levo estão um pouco azedas!

- Mas é muito simples. Ao pegar as laranjas, prefira as que têm a
casca fina e que, ao menos, exalem seu cheiro. Com certeza essas
estarão doces, como esta aqui! - disse Ronaldo pegando uma fruta e
as entregando à moça, após levá-las ao nariz.

- É verdade... esta está levemente cheirosa!

- Pois é, menina! Comprar também é uma arte! - disse ele sorrindo.

- Você tem razão! - respondeu ela com um belo sorriso nos lábios.

- Se você aceitar, posso ajudá-la a fazer suas compras!

- Não posso e nem devo abusar da sua boa vontade!

- Não será abuso algum! Disponho de todo o tempo... estou folgando!

- Se for assim, eu aceito! Quem sabe desta vez aprendo como comprar frutas, legumes e hortaliças com qualidade, né? - disse ela sorrindo.

- Tenho certeza que, após essa "reciclagem", você nunca mais terá que chupar laranjas azedas! Hahahahahahahahaha!

- Tenho certeza que sim! Hahahahahahahaha!

- Então vamos às compras, ... - determinou ele esperando que ela
completasse sua frase dizendo o próprio nome.

- Andréia, "Patrãozinho"! - brincou ela.

- Eu sou Ronaldo, "Madame"! - replicou ele brincando.

Juntos percorreram as barracas da feira. Em cada uma que paravam,
Ronaldo explicava a Andréia como escolher o que havia de melhor, sem a necessidade de "apertar ou enfiar a unha". Uma hora mais tarde haviam comprado o que ambos precisavam. As sacolas estavam cheias e Ronaldo, apesar da resistência da moça, insistiu em carregar suas sacolas mais pesadas.

Ronaldo ficou sabendo que ela era dançarina e atriz teatral. Andréa
soube que ele jogava futebol num dos times mais famosos da cidade.

Ronaldo ficou sabendo que ela era solteira e morava num bairro próximo ao que ele residia. Andréia soube que ele estava sem seu carro e iria de táxi para casa.

- Se você não se importar, eu posso deixá-lo em casa!

- Não é preciso, Andréa... eu pego um táxi!

- Nada disso! Eu o levarei em casa e pronto! - disse ela determinada.

- Manda quem pode, obedece quem tem juízo! - disse Ronaldo sorrindo.

- Já que eu sou a lei aqui, sigam-me os bons! Hahahahahahaha!

- OK, "Xerife"! Hahahahahahaha!

Entraram no carro da moça e seguiram em direção ao bairro que moravam.

Durante o trajeto conversavam banalidades, nada que os comprometesse, até que Ronaldo propôs:

- Já é quase meio-dia... que tal bebermos algo antes de irmos pra
casa?

- Acho uma boa idéia! Topo!

- Que tal o "Berimbau Natural"?

- Gosto desse restaurante! Vamos lá!

Logo estavam no restaurante. Escolheram uma mesa discreta e pediram as bebidas: caipirosca pra ela e uísque pra ele.
Enquanto bebiam falaram dos seus gostos e dos seus cotidianos, entre outros assuntos amenos. Só não falaram das suas solidões.

E beberam mais um pouco até que chegou a comida.

Comeram o que seus apetites determinaram e, saciados, tomaram um cafezinho.

Ela quis dividir a conta, ele não aceitou. Ela deixou que ele pagasse.

Já no carro, a caminho de suas casas, enquanto Andréia dirigia, o
álcool desinibiu Ronaldo. Num gesto delicado ele acariciou os cabelos da moça e, um pouco mais ousado, enfiou a mão entre as virilhas dela.

Ela tomou um susto, franziu a testa e o suor pingou em seu colo.

Ele suou frio e franziu a testa ao assustar-se por sentir uma pequena
protuberância na parte interna das coxas dela.

- Será que Andréia é um travesti? Será hermafrodita? - pensou Ronaldo preocupado e desiludido.

- Ele está com uma cara estranha! O que estará pensando! - refletia
Andréia em seus pensamentos.

Após o gesto atrevido, Ronaldo aquietou-se e ficou sem saber o que
dizer. Andréia também se calara.

Assim, sem dizerem palavra, chegaram ao prédio que Ronaldo morava. Ele desceu, agradeceu a carona, pegou suas compras e entrou no edifício.

Ela seguiu seu caminho, tentando segurar as lágrimas que teimavam em cair dos seus belos olhos castanhos.

E o sol continuou brilhando naquela tarde de sábado!

Na quarta-feira à noite Ronaldo foi internado num hospital perto do
estádio. Sofrera uma pancada na cabeça ao chocar-se com um jogador adversário e, como desmaiara, por precaução fora internado para fazer alguns exames.

Liberado na manhã do dia seguinte, ao sair, no saguão do hospital
encontrou Andréia...

- Olá, Ronaldo... tudo bem?

- Oi, Andréia! Como está?

- Soube do ocorrido. Está tudo bem contigo?

- Graças a Deus! Ainda vou jogar por um bom tempo!

- Folgo em saber!

- E você? O que faz por aqui? Veio me visitar?

- Não! A cada três dias passo cerca de quatro horas nesse hospital!

- Você trabalha aqui?

- Não... Eu faço hemodiálise!

FIM

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