Luís Campos (Blind Joker)
Ele a conhecera numa feira quando ela comprava algumas frutas.
Ao perceber que a moça não sabia escolher as laranjas e pegava aquelas ainda verdosas, com o intuito de ajudar, disse-lhe:
- Desculpe-me, mas essas laranjas que você pegou não estão boas!
Ela sorriu e disse ao rapaz:
- Eu nunca sei como escolher as docinhas. Quase sempre, a maioria das laranjas que levo estão um pouco azedas!
- Mas é muito simples. Ao pegar as laranjas, prefira as que têm a
casca fina e que, ao menos, exalem seu cheiro. Com certeza essas
estarão doces, como esta aqui! - disse Ronaldo pegando uma fruta e
as entregando à moça, após levá-las ao nariz.
- É verdade... esta está levemente cheirosa!
- Pois é, menina! Comprar também é uma arte! - disse ele sorrindo.
- Você tem razão! - respondeu ela com um belo sorriso nos lábios.
- Se você aceitar, posso ajudá-la a fazer suas compras!
- Não posso e nem devo abusar da sua boa vontade!
- Não será abuso algum! Disponho de todo o tempo... estou folgando!
- Se for assim, eu aceito! Quem sabe desta vez aprendo como comprar frutas, legumes e hortaliças com qualidade, né? - disse ela sorrindo.
- Tenho certeza que, após essa "reciclagem", você nunca mais terá que chupar laranjas azedas! Hahahahahahahahaha!
- Tenho certeza que sim! Hahahahahahahaha!
- Então vamos às compras, ... - determinou ele esperando que ela
completasse sua frase dizendo o próprio nome.
- Andréia, "Patrãozinho"! - brincou ela.
- Eu sou Ronaldo, "Madame"! - replicou ele brincando.
Juntos percorreram as barracas da feira. Em cada uma que paravam,
Ronaldo explicava a Andréia como escolher o que havia de melhor, sem a necessidade de "apertar ou enfiar a unha". Uma hora mais tarde haviam comprado o que ambos precisavam. As sacolas estavam cheias e Ronaldo, apesar da resistência da moça, insistiu em carregar suas sacolas mais pesadas.
Ronaldo ficou sabendo que ela era dançarina e atriz teatral. Andréa
soube que ele jogava futebol num dos times mais famosos da cidade.
Ronaldo ficou sabendo que ela era solteira e morava num bairro próximo ao que ele residia. Andréia soube que ele estava sem seu carro e iria de táxi para casa.
- Se você não se importar, eu posso deixá-lo em casa!
- Não é preciso, Andréa... eu pego um táxi!
- Nada disso! Eu o levarei em casa e pronto! - disse ela determinada.
- Manda quem pode, obedece quem tem juízo! - disse Ronaldo sorrindo.
- Já que eu sou a lei aqui, sigam-me os bons! Hahahahahahaha!
- OK, "Xerife"! Hahahahahahaha!
Entraram no carro da moça e seguiram em direção ao bairro que moravam.
Durante o trajeto conversavam banalidades, nada que os comprometesse, até que Ronaldo propôs:
- Já é quase meio-dia... que tal bebermos algo antes de irmos pra
casa?
- Acho uma boa idéia! Topo!
- Que tal o "Berimbau Natural"?
- Gosto desse restaurante! Vamos lá!
Logo estavam no restaurante. Escolheram uma mesa discreta e pediram as bebidas: caipirosca pra ela e uísque pra ele.
Enquanto bebiam falaram dos seus gostos e dos seus cotidianos, entre outros assuntos amenos. Só não falaram das suas solidões.
E beberam mais um pouco até que chegou a comida.
Comeram o que seus apetites determinaram e, saciados, tomaram um cafezinho.
Ela quis dividir a conta, ele não aceitou. Ela deixou que ele pagasse.
Já no carro, a caminho de suas casas, enquanto Andréia dirigia, o
álcool desinibiu Ronaldo. Num gesto delicado ele acariciou os cabelos da moça e, um pouco mais ousado, enfiou a mão entre as virilhas dela.
Ela tomou um susto, franziu a testa e o suor pingou em seu colo.
Ele suou frio e franziu a testa ao assustar-se por sentir uma pequena
protuberância na parte interna das coxas dela.
- Será que Andréia é um travesti? Será hermafrodita? - pensou Ronaldo preocupado e desiludido.
- Ele está com uma cara estranha! O que estará pensando! - refletia
Andréia em seus pensamentos.
Após o gesto atrevido, Ronaldo aquietou-se e ficou sem saber o que
dizer. Andréia também se calara.
Assim, sem dizerem palavra, chegaram ao prédio que Ronaldo morava. Ele desceu, agradeceu a carona, pegou suas compras e entrou no edifício.
Ela seguiu seu caminho, tentando segurar as lágrimas que teimavam em cair dos seus belos olhos castanhos.
E o sol continuou brilhando naquela tarde de sábado!
Na quarta-feira à noite Ronaldo foi internado num hospital perto do
estádio. Sofrera uma pancada na cabeça ao chocar-se com um jogador adversário e, como desmaiara, por precaução fora internado para fazer alguns exames.
Liberado na manhã do dia seguinte, ao sair, no saguão do hospital
encontrou Andréia...
- Olá, Ronaldo... tudo bem?
- Oi, Andréia! Como está?
- Soube do ocorrido. Está tudo bem contigo?
- Graças a Deus! Ainda vou jogar por um bom tempo!
- Folgo em saber!
- E você? O que faz por aqui? Veio me visitar?
- Não! A cada três dias passo cerca de quatro horas nesse hospital!
- Você trabalha aqui?
- Não... Eu faço hemodiálise!
FIM
sábado, 3 de outubro de 2009
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