sábado, 3 de outubro de 2009

Ironia! (Conto)

Luís Campos (Blind Joker)


Cátia era uma bela mulher!
À época, teria cerca de vinte e cinco anos, arquiteta, corpo esguio e atraente.
Marcos era um homem bonito. Advogado, formado há três anos e beirava os vinte e nove anos.

Marcos e Cátia eram casados há dois anos.
Eles eram vizinhos de Ronaldo. Cego, com seus quarenta e dois anos, solteiro e que vivia com a mãe.
Na casa do casal não havia telefone e, quando eles queriam receber
recados, davam o número do vizinho e amigo.
Ronaldo era confidente dos dois.

Uma tarde, Cátia falou para o amigo que alguém a ligaria e gostaria
que ele a chamasse, mas não queria que Marcos soubesse.
Ronaldo lhe disse que, através dele, seu marido jamais saberia.
Assim, por uns três meses, Cátia recebeu as ligações desse "amigo".
Marcavam encontros e trocavam juras de amor, escutadas, forçosamente por Ronaldo, já que este estava sempre sentado ali pela sala.
Algumas vezes, nas quais Cátia não havia como receber as telefonemas do "amigo", ora por estar ausente, ora por Marcos estar presente, Ronaldo conversara com o cidadão, que lhe falava do seu envolvimento com a mesma. Ele não opinava, apenas escutava. Acabou ficando amigo do sujeito.
César era advogado e tinha trinta e quatro anos. Militava na área
criminal e herdara a "banca" do pai, magistrado e professor famoso
em Salvador. Este romance do César com a Cátia já durava três meses, quando, certa tarde, Marcos chamou Ronaldo e lhe disse que uma tal de Rosana iria ligar para ele e gostaria que o amigo o chamasse, porém sem deixar que a Cátia percebesse qual o assunto.
Assim procedeu Ronaldo... com ambos!

Uma noite, dois meses depois dessa conversa com o Marcos e inúmeros "recados" discretos para ambos, Cátia entra aos prantos na casa de Ronaldo. A mãe dele, uma viúva com cerca de sessenta anos, trás água com açucar para acalmar a jovem vizinha.
Ela, inocente e sem maldade, nunca imaginaria que as ligações
recebidas pelo casal, em sua casa, não eram nada inocentes, visto
nunca escutar as conversas destes ao telefone por estar cuidando
dos seus afazeres domésticos e também por sua educação não permitir esse tipo de atitude, pois seus pais assim lhe ensinara.
Dona Branquinha ficou chocada quando Cátia, entre lágrimas, exclamou:

- Oh, meu Deus, descobri que o Marcos tem uma amante!
Como ele pôde fazer isso comigo?

Dona Branquinha, para consolar a moça, filosofou:

- Homem é tudo igual, minha filha... só muda de endereço!

Ronaldo apenas sorriu maliciosamente!

FIM

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